"Eu me preparo por volta de uma semana a até um mês, dependendo do contraste de personalidades" diz Yumio Mendes Pedro, 21, um cosplayer dedicado que gosta de se superar a cada ano e não mede esforços para tal intuito.
Mas afinal, o que seria "fazer cosplay"?
Cosplay é um termo em
inglês, formado pela junção das palavras costume (fantasia) e roleplay (brincadeira ou interpretação). Ele é considerado um hobby em que os
participantes se fantasiam de personagens fictícios da cultura pop japonesa.
Mas não está restrito apenas a cultura japonesa, um cosplay pode estar relacionado com
personagens de games, super heróis, animes e mangás, porém podem também
englobar qualquer outro tipo de caracterização que pertença a cultura pop
ocidental. Normalmente, os cosplayers são fãs dos personagens que
representam, nos festivais do gênero.
A ideia do cosplay é baseado no DIY – Do It Yourself (“Faça Você Mesmo”, em português), que consiste nos cosplayers produzirem a sua própria fantasia, assim como todos os equipamentos e acessórios que poderão necessitar para a caracterização do personagem.
"No uniforme colegial da Maki eu gastei em média 350 reais, mas na minha armadura do Minos de Griffon, por exemplo, foi investido 1500" relata o cosplayer Yumio Mendes Pedro, 21.
Já Sabrina Souza Silva, 21, também não saiu dessa faixa
inicial de preço:
"em outubro do ano passado, eu quis muito fazer o cosplay da Ravena, dos Jovens Titãs (a versão da animação que passava na TV) para o Halloween, comprei todos os tecidos, peruca, clown, tudo o que se pode imaginar. Acho que gastei em média quase 400 reais somando tudo".
Não é um
hobby barato, mas pra eles é a forma de sair um pouco da rotina cansativa.
Minha experiência na CAF
Lá no Campinas anime fest pude presenciar diversas
caracterizações impecáveis. Personagens que vemos no nosso dia-a-dia, que
crescemos assistindo aos desenhos ou que somos fãs, marcaram presença no
evento. Andando em meio a multidão de pessoas, vi de longe a heroína que sempre
gostei, a Supergirl – ou Supermoça, que é prima do Superman e uma heroína das
histórias em quadrinhos da DC Comics – Atravessei o mar de pessoas e consegui
chegar até ela para tirar uma foto da vestimenta, que por sinal era idêntica a
da série de televisão, transmitida pela Warner Bros, e até com o rosto e
feições semelhantes.
Mais
do que um simples evento de anime em um domingo do mês de abril, o lugar
transmitia um sentimento de nostalgia, misturado com empolgação e alegria. O gramado do Liceu
Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, deixou de ser um gramado de uma escola pra
ser uma grande passarela, onde desfilavam diversos personagens, de diferentes
lugares. Na quadra, tinha vários personagens do Ryu – protagonista da franquia
de jogos eletrônicos de luta Street
Fighter – lutando entre si. Mais para o lado direito, em sentido ao gramado
grande, estavam personagens do Star Wars – série de filmes espaciais – duelando
com seus sabres de luz – uma arma de energia ficcional do universo de Star Wars.
A partir de tudo que presenciei naquele ambiente, veio uma
pergunta em minha cabeça: é saudável para a mente e o corpo sair da realidade
para viver a realidade de um personagem? O cosplayer não se limita apenas no ato de
se fantasiar, mas também interpretar a personalidade do personagem escolhido.
Em diversos momentos, quando eu ia fazer alguma foto com um cosplay, eles
imediatamente faziam os movimentos originais do personagem. Era como se a
verdadeira identidade não existe, naquele ambiente, mas sim, a do personagem
escolhido.
Otaku?
Outra forma de denominar quem gosta muito de desse
assunto é pelo nome de otaku – que é uma expressão de origem japonesa
utilizada para designar pessoas que são consideradas
fãs extremistas de determinado assunto, esporte, programa de
televisão. Na cultura ocidental – como a cultura brasileira – a palavra otaku ganhou um significado bastante diferente do original e é
utilizada como uma gíria que define as pessoas que são exclusivamente fãs
de animês e mangás. Já no Japão, a figura do otaku é caracterizada como sendo a de um
indivíduo que busca se isolar socialmente, dedicando-se exclusivamente e
obsessivamente a um hobby ou atividade específica – como vídeogames, filmes, desenhos animados e
etc. O otaku, quando atinge o ápice
do seu comportamento, pode apresentar alguns sintomas de fobia social. O
termo pode ser considerado pejorativo para os japoneses, pois associa o
indivíduo a comportamentos antissociais ou mesmo de pouco cuidado e higiene
pessoal.
Mesmo
que no Brasil essa prática de fazer cosplay
não seja pejorativa, o ato de se fantasiar pode ser uma válvula de escape da
realidade para alguns. Yumio Mendes Pedro, 21, conta como o cosplay foi uma forma de ajudar sua
saúde:
"eu tenho depressão e esquizofrenia, então o cosplay me mostrou uma forma de não ser eu, de me desligar dos meus problemas e por um dia me divertir sendo a personagem, de me reconhecerem como a personagem e não como o eu do dia a dia, ele melhorou muito meu quadro clínico e me fez ver o sorriso das pessoas quando a personagem delas na frente delas."
Sabrina Souza Silva, 21, reforça o depoimento de Yumio dizendo que
no caso dela o cosplay ajudou:
"Já tive problemas com depressão e fazer o que gosto me ajudou muito. Sou do tipo de pessoa que está sempre em atividade artística, independente da vertente. E isso ajuda a distrair a cabeça e me fazer mais feliz. Acho que quando você leva as coisas com leveza, toda a aura em volta daquilo fica melhor".
O que Freud diz?
O conceito de fantasia na teoria freudiana aconteceu quando Freud ainda fazia seus estudos sobre
histeria juntamente com Breuer
considerando a fantasia como uma atividade mental muito frequente nas
histéricas, tanto no seu estado de vigília como sob estado hipnótico. Porém,
após estes estudos o conceito de fantasia se tornou abrangente comportando
várias significações sendo necessária sua definição para maior compreensão da
obra psicanalítica e para o sucesso do tratamento analítico.
O olhar de um especialista
O psicanalista Rubens dos Santos, 55, se aprofunda no
conceito do que pode ser o motivo desses jovens e adultos quererem fugir da sua
realidade:
"o cosplay não é o mal em si, ele é o sintoma da busca de identidade do adolescente, que aponta como a sociedade que está doente".
Ele complementa dizendo que
"o jovem busca na fantasia sua identidade, mas nós não podemos fechar os olhos e dizer que isso é totalmente ruim, porque ali ele encontra uma saída. Ele sai do seu quarto, ele é visto, é aplaudido e é reconhecido, de uma outra forma, talvez, ele não teria essa oportunidade. Ele encontra no cosplay o reconhecimento que tanto busca".
O psicanalista continua dizendo que a
forma de tratamento mais eficaz é com a família:
"quando percebermos esse movimento social dos jovens, precisamos olhar para as famílias. Ali que está a chave para tratar a saúde emocional, mental e social da nossa sociedade".
Sentada no gramado do Liceu, olhando para as incontáveis pessoas presentes no evento, percebi que não conheço nem metade da vida e pelo que ela está passando. Yumio diz que apesar de tudo o que ele passou, a ajuda da namorada é que deu forças para ele:
"eu sempre tive minha namorada do lado me ajudando, me acalmando e dando um passo de cada vez".Yumio mostra que o cosplay é uma parte muito importante de sua vida e o ajuda a sair de casa e se divertir um pouco.
"Porque por mais que o meio seja manchado por muitas polêmicas, críticas e visões negativas, eu queria de alguma forma mostrar que não, que é um mundo muito fantástico e que tem gente muito legal que se tornam grandes amigos e até mesmo uma relação romântica"
Qual foi o melhor cosplay que você já fez ou viu? Deixe aqui nos comentários!! Não esquece de curtir nossa página no Facebook :)
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