quarta-feira, 10 de maio de 2017

Cosplay pode ser um ato saudável para mente?


A ansiedade e empolgação é o que caracteriza um cosplayer   uma pessoa que faz cosplay   no período pré evento de cultura pop. Campinas sedia um dos eventos mais esperados do ano na região, o Campinas Anime Fest, que nada mais é que um festival de anime e cultura jovem, em que os participantes se preparam durante dias. 
"Eu me preparo por volta de uma semana a até um mês, dependendo do contraste de personalidades" diz Yumio Mendes Pedro, 21, um cosplayer dedicado que gosta de se superar a cada ano e não mede esforços para tal intuito. 

Mas afinal, o que seria "fazer cosplay"? 


Cosplay é um termo em inglês, formado pela junção das palavras costume (fantasia) e roleplay (brincadeira ou interpretação). Ele é considerado um hobby em que os participantes se fantasiam de personagens fictícios da cultura pop japonesa. Mas não está restrito apenas a cultura japonesa, um cosplay pode estar relacionado com personagens de games, super heróis, animes e mangás, porém podem também englobar qualquer outro tipo de caracterização que pertença a cultura pop ocidental. Normalmente, os cosplayers são fãs dos personagens que representam, nos festivais do gênero.


A ideia do cosplay é baseado no DIY – Do It Yourself  (“Faça Você Mesmo”, em português), que consiste nos cosplayers produzirem a sua própria fantasia, assim como todos os equipamentos e acessórios que poderão necessitar para a caracterização do personagem. 
"No uniforme colegial da Maki eu gastei em média 350 reais, mas na minha armadura do Minos de Griffon, por exemplo, foi investido 1500" relata o cosplayer Yumio Mendes Pedro, 21. 
Sabrina Souza Silva, 21, também não saiu dessa faixa inicial de preço: 
"em outubro do ano passado, eu quis muito fazer o cosplay da Ravena, dos Jovens Titãs (a versão da animação que passava na TV) para o Halloween, comprei todos os tecidos, peruca, clown, tudo o que se pode imaginar. Acho que gastei em média quase 400 reais somando tudo". 
Não é um hobby barato, mas pra eles é a forma de sair um pouco da rotina cansativa. 



Minha experiência na CAF

Lá no Campinas anime fest pude presenciar diversas caracterizações impecáveis. Personagens que vemos no nosso dia-a-dia, que crescemos assistindo aos desenhos ou que somos fãs, marcaram presença no evento. Andando em meio a multidão de pessoas, vi de longe a heroína que sempre gostei, a Supergirl – ou Supermoça, que é prima do Superman e uma heroína das histórias em quadrinhos da DC Comics – Atravessei o mar de pessoas e consegui chegar até ela para tirar uma foto da vestimenta, que por sinal era idêntica a da série de televisão, transmitida pela Warner Bros, e até com o rosto e feições semelhantes. 
Mais do que um simples evento de anime em um domingo do mês de abril, o lugar transmitia um sentimento de nostalgia, misturado com empolgação e alegria.  O gramado do Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, deixou de ser um gramado de uma escola pra ser uma grande passarela, onde desfilavam diversos personagens, de diferentes lugares. Na quadra, tinha vários personagens do Ryu – protagonista da franquia de jogos eletrônicos de luta Street Fighter – lutando entre si. Mais para o lado direito, em sentido ao gramado grande, estavam personagens do Star Wars – série de filmes espaciais – duelando com seus sabres de luz – uma arma de energia ficcional do universo de Star Wars

A partir de tudo que presenciei naquele ambiente, veio uma pergunta em minha cabeça: é saudável para a mente e o corpo sair da realidade para viver a realidade de um personagem? O cosplayer não se limita apenas no ato de se fantasiar, mas também interpretar a personalidade do personagem escolhido. Em diversos momentos, quando eu ia fazer alguma foto com um cosplay, eles imediatamente faziam os movimentos originais do personagem. Era como se a verdadeira identidade não existe, naquele ambiente, mas sim, a do personagem escolhido. 


Otaku?

Outra forma de denominar quem gosta muito de desse assunto é pelo nome de otaku – que é uma expressão de origem japonesa utilizada para designar pessoas que são consideradas fãs extremistas de determinado assunto, esporte, programa de televisão. Na cultura ocidental   como a cultura brasileira a palavra otaku ganhou um significado bastante diferente do original e é utilizada como uma gíria que define as pessoas que são exclusivamente fãs de animês e mangás. Já no Japão, a figura do otaku é caracterizada como sendo a de um indivíduo que busca se isolar socialmente, dedicando-se exclusivamente e obsessivamente a um hobby ou atividade específica como vídeogames, filmes, desenhos animados e etc. O otaku, quando atinge o ápice do seu comportamento, pode apresentar alguns sintomas de fobia social. O termo pode ser considerado pejorativo para os japoneses, pois associa o indivíduo a comportamentos antissociais ou mesmo de pouco cuidado e higiene pessoal. 
Mesmo que no Brasil essa prática de fazer cosplay não seja pejorativa, o ato de se fantasiar pode ser uma válvula de escape da realidade para alguns. Yumio Mendes Pedro, 21, conta como o cosplay foi uma forma de ajudar sua saúde: 
"eu tenho depressão e esquizofrenia, então o cosplay me mostrou uma forma de não ser eu, de me desligar dos meus problemas e por um dia me divertir sendo a personagem, de me reconhecerem como a personagem e não como o eu do dia a dia, ele melhorou muito meu quadro clínico e me fez ver o sorriso das pessoas quando a personagem delas na frente delas." 
Sabrina Souza Silva, 21, reforça o depoimento de Yumio dizendo que no caso dela o cosplay ajudou: 
"Já tive problemas com depressão e fazer o que gosto me ajudou muito. Sou do tipo de pessoa que está sempre em atividade artística, independente da vertente. E isso ajuda a distrair a cabeça e me fazer mais feliz. Acho que quando você leva as coisas com leveza, toda a aura em volta daquilo fica melhor".


O que Freud diz?

O conceito de fantasia na teoria freudiana aconteceu quando Freud ainda fazia seus estudos sobre histeria juntamente com Breuer considerando a fantasia como uma atividade mental muito frequente nas histéricas, tanto no seu estado de vigília como sob estado hipnótico. Porém, após estes estudos o conceito de fantasia se tornou abrangente comportando várias significações sendo necessária sua definição para maior compreensão da obra psicanalítica e para o sucesso do tratamento analítico.


O olhar de um especialista

O psicanalista Rubens dos Santos, 55, se aprofunda no conceito do que pode ser o motivo desses jovens e adultos quererem fugir da sua realidade: 
"o cosplay não é o mal em si, ele é o sintoma da busca de identidade do adolescente, que aponta como a sociedade que está doente". 
Ele  complementa dizendo que 
"o jovem busca na fantasia sua identidade, mas nós não podemos fechar os olhos e dizer que isso é totalmente ruim, porque ali ele encontra uma saída. Ele sai do seu quarto, ele é visto, é aplaudido e é reconhecido, de uma outra forma, talvez, ele não teria essa oportunidade. Ele encontra no cosplay o reconhecimento que tanto busca". 
O psicanalista continua dizendo que a forma de tratamento mais eficaz é com a família
"quando percebermos esse movimento social dos jovens, precisamos olhar para as famílias. Ali que está a chave para tratar a saúde emocional, mental e social da nossa sociedade". 


Sentada no gramado do Liceu, olhando para as incontáveis pessoas presentes no evento, percebi que não conheço nem metade da vida e pelo que ela está passando. Yumio diz que apesar de tudo o que ele passou, a ajuda da namorada é que deu forças para ele: 


"eu sempre tive minha namorada do lado me ajudando, me acalmando e dando um passo de cada vez". 
Yumio mostra que o cosplay é uma parte muito importante de sua vida e o ajuda a sair de casa e se divertir um pouco. 
"Porque por mais que o meio seja manchado por muitas polêmicas, críticas e visões negativas, eu queria de alguma forma mostrar que não, que é um mundo muito fantástico e que tem gente muito legal que se tornam grandes amigos e até mesmo uma relação romântica" 


Qual foi o melhor cosplay que você já fez ou viu? Deixe aqui nos comentários!! Não esquece de curtir nossa página no Facebook :) 







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Geek Legends
Três amigas apaixonadas pela cultura pop se juntaram em uma aula de jornalismo online para dar início ao projeto do semestre: a criação de um blog. Reunimos os nossos gostos, que, mesmo fazendo parte de um mesmo universo, podem ser um tanto diferentes, para juntá-los em um único espacinho da internet.